quinta-feira, 30 de abril de 2009

Menino Lobo

Uma alma gêmea

Chega e sorri sem demora
Vem, beija e vai embora

Uma alma gêmea
Um tesouro perdido
És tão parecido comigo!
Que acho que não daria certo.

Confesso...

Por que me esnobas?
Por que não me procuras?
Não sou o doce que buscas?

Um ferimento no ego...
Mas não tem jeito
Não consigo...
Eu ainda te quero!

Menino lobo
Pássaro selvagem
És o espelho
Da minha miragem

Menino que pouco conheço
Que não me permite um começo
Poço de delírios...
Interessante, bonito,
E divertido.

Pena...

Que não me da chance
Nem a partícula
De um instante.

Pássaro excitante,
Livre, ébrio e delirante
Que não me desejas
Tampouco almejas
Ser meu mais novo,
E breve, amante!

(Carolina Dantas)
Ler

Posso ser quase tudo
Nessa vida
Quem sabe até jornalista

Teria de ter paixão por ler
Mas a falta de concentração
Só me permite escrever

É raro, em algo me prender
Cabeça doida
Menina louca
Déficit de atenção

Será?
Ou seria porque não consigo
Parar de pensar...

Será?
Ou seria a inquieta juventude
Com suas loucuras...
Seus defeitos...
E sua virtude?

Sinceramente?
Ainda não tenho essa resposta
Eu só me entrego
À leitura que provoca,

Enquanto isso, enrolo...

(Carolina Dantas)

Não mais

Amei-te, meu querido
Amei-te loucamente
Corpo e alma envolvidos
Até deixar de ser gente.

Então... Porque me ferisse?
Acho que não valho nada?

Fui querida, fui escrava
Fui boba, fui Amélia
E ainda assim...
Passou longe a quimera!

Quero que saiba
Que de nada, me arrependo.
Mas que no teu coração caiba
Uma partícula do meu lamento.

Amei-te tanto, amante perdido
Que por tanto, tenha me afligido...

Saibas que não olho mais pra trás
Que não tenho saudade
Dos tempos de outrora

Saiba que como uma benção
Eu não te quero mais
Nem jamais!
Nem agora...

Você já me perturbou demais
Guarde seu veneno
Sua maldade de capataz.

Sua loucura me envolveu
Me empurrou
Me dissolveu,
Nesse amor doentio...
Atrás desse falso cordeiro catio.

Amei-te demais!
Menino doido, vadio
Mas “graças a Deus”
Já não te amo mais!

O tempo apagou o doente desejo
De correr atrás da lembrança...
Da saudade de um beijo.

Finalmente tenho o antídoto
Dessa louca vontade
Para essa sua crueldade

O que faz,
Como vive?
Se tornou irrelevante.

Por isso não me procure mais
Não me perturbe mais
Vá suma, desapareça
E de mim, se esqueça!

Seja feliz, menino maluco
Seja feliz, bem distante!
Que encontre outra Amélia
Ou alguma tratante...
Quem sabe assim corrige
Esses passos errantes.

(Carolina Dantas)


Sobre nada

Posso falar qualquer coisa
Inclusive nada
Posso fazer um jogo de palavras
Bonitas, sinceras, rimadas.

Posso fazer palavras cruzadas
Brincar com as letras
Soltar palavras jogadas

Circense, grotesco, casada
Bizarro, belo, dentada
Psicodélico, bobo, psiquiatra...
E chega! E mais nada.

Quais são as suas palavras?

Posso ficar aqui por horas
Esvaziando a mente
Nessa poesia largada
Sem sentido
Maluca ou inteligente.

A noite inteira divagar
Nesse monte de nada
Neste albergue de palavras.

(Carolina Dantas)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Xaxado a dois

Menino chega junto
Não tenha medo
Desse meu mundo

Venha me segura
E vamos juntos
Nessa loucura...

Rolar, Rodopiar
Até o dia clariar!

Queria ver você bailar
Queria ver você dançar
Queria fazer você sorrir
Queria te fazer sentir

Queria você perto de mim
Queria ter você assim
Queria em teu corpo me envolver
E sem pressa, te fazer arder.

(Carolina Dantas)
A Aprendiz

Estou apenas começando
Caminhando e cantando...
Ou melhor, tropeçando e cantando.

Cantar? Sim, por que não?
Já se disse: quem canta
Os males espanta.

Não canto para espantar
Só para alegrar
E curtir e dançar...

Deixar tudo mais leve...

Flutuando e cantando eu vou!
Ou melhor, copiando e criando
Eu vou!

Afinal, estou apenas começando...

Caminhando
Cantando
Flutuando...
Como se diz?
Numa boa.

Numa boa sim! Porque não?

Ah! Mas aí tem que ser otimista
Caminhar numa boa
Não é estar sempre em paz
É simplesmente caminhar
E aprender
E desfrutar...

Desfrutar, sim! Porque não?

Sentir o contrair dos músculos
Naquele belo sorriso
Sentir o apertar da garganta
Durante um dolorido choro
É ver o coração sangrar
E ainda sobreviver o desgosto.

Sobreviver, para viver...
E só depois morrer!

Morrer, quizá, feliz
Tranquila, realizada
Já pensou? Que maravilha?

Morrer sabendo que viveu
Que caminhou
Que sorriu
E que sofreu

Mas que também teve paz...
Ah! E muita paz...
Paz sim! Porque não?

Afinal posso estar só começando
E caminhando
E cantando
E sei lá mais o que...

Mas o que importa é que estou
Aprendendo...
Vivendo...
Sofrendo...
E tudo mais com “endo”.

Poesia boba? Tanto faz!

Importa é a alma sagaz
Que pode até não saber o que quer
Ou o que diz
Como um completo aprendiz
Mas ainda assim,
Vive para crer no que faz!

(Carolina Dantas)
A Resposta

É assim que vivo,
A minha vida
E tu, como vives?

Estais bem?
Sente-se bem?
Vives bem?

Não?

Então, estais mal,
Sente-se mal,
Ou... Vives mal?

Ainda não?

Então...
O que sentes...?

Hum, estais mais ou menos,
Sente-se razoável,
E Vives em cima do muro.

Também não?!

Interessante...

Ah! Então me dizes
Que não crê em opostos...
Que eles não existem...

E por isso não acha nada
Não crê em nada
Simplesmente, nada!
Só repete os livros...

E o amor que sentes?
Ou não sentes?
Se sentes... tens raiva
É inevitável.
Iai...?

Até que te entendo,
Mas discordo
O mundo é dual!
Essa, meu amigo
É a minha verdade.

Pelo menos eu creio em algo...

E sigo, e vivo algo...

Não sigo um caminho reto.
Nem do meio
Muito menos das pontas.

Fico zanzando por aí.
Como dizem:
Mulher na linha o trem pega!

Claro, que não sigo isso a risca
Na verdade, acho q não sigo nada...
Não a risca.

Mas admita,
A frase... é divertida!

Incentiva...
Aceita... os desvios!

Amo os desvios,
São neles que tudo acontece!
São neles que se aprende,
Que se vive, que se sente!

Bom, é assim que eu vivo.
E tu como vives?
Ainda em cima do muro?

Sinceramente?
Boa sorte, meu amigo,
Meu querido, meu amante.

(Carolina Dantas)
Meditação

Meu corpo é uma maquina
Minha mente os comandos
Minha alma o combustível
Deste interminável encanto

Nos momentos de paz
Assumo o controle
Brinco...
Faço doce

Entro e saio de qualquer emoção...

Vivo e revivo qualquer momento
Passado ou futuro
No qual, portanto, não existo

É só a mentalização...

Como isso é divertido...
Como isso machuca!
Quanto corpo doído
Tanta coisa maluca...

Aqui dentro...

Corre o rio de pensamentos
Desembrulhando os mais profundos
Sentimentos...

Raiva, Indignação
Culpa, Frustração...

Cavo o descaso
Faço surgir a rebelião
E assim vou
E assim vão
Os pensamentos as angustias
A sensação de solidão

Ah! Que alivio
Que paz...

Pareço o mar que remexe
Que sacode...
Que bate, explode, e dissolve
Antes da calmaria...

Ah! A calmaria...
Passou? E agora...?

Faz-se de novo a revelia...

(Carolina Dantas)
Insônia

O passado em punho esmaga
Aperta e estraçalha
O pobre coração,
Chora, sangra e amarga

A dor latejante se espalha
Pela pele, pelos vasos
Pelos olhos abertos e cansados
Pelo corpo catio e sem graça

O barulho preenche e tange
A mente perturbada e divagante
O vazio invade a alma,
Durante a quieta e escura madrugada.

Todos dormem
Todos sonham
Menos os que sofrem
Menos os que amam.

A silêncio vem pelos poros ,
Pelos pêlos
O dia... É graça.
À noite... Um pesadelo.

A dualidade reina
O presente é dádiva
O presente é lastima
Será assim a vida inteira?


Espero que não!

Espero que o otimismo vença
Que venha e cure essa doença
Doença da mente, do coração
Que corrompe e destrói
A paz da solidão.

(Carolina Dantas)
A Ferida

A dor usa máscaras
de sorrisos e lástimas
Contida pela frustração
Ela dança sobre a desilusão.

As perdas são ganhos
Conhecidos, estranhos
Amigos? Já não sei mais.

Parte bom, parte mal
Em menor ou em maior grau.
Todos são egoistas,
Alguns... também artistas.

Construindo a vida
Conhecendo o amor
Descobrinco a beleza
Até no rancor.

Eu vou...

É preciso dizer "goodbye"!
Nos anos que vêem
Na vida que vai.

O verde traz segurança
O mar melancolia
Quizá haja esperança
Nos artistas da alegria.

(Carolina Dantas)
Conceitos

O que é certo? O que é errado?
São tantas as leis...
E as bíblias...
O que está correto?

Recomenda-se o bom senso...
De quem?
Se são tantas as leis...
E as bíblias...

Cada homem é um mundo,
Cada mundo é um homem.
O que está certo?
O que está errado?

Faz-se o ato, depois a culpa...
De quem?
Se cada homem é um mundo
E são tantas as bíblias...

São muitas as vozes...
São muitos os mundos
Dentro de um único mundo...
Dentro de um único homem!

O que é certo?
O que é errado?

É o que se faz sofrer?
Mas se todos sofrem,
E vivem, e cantam
E choram, e morrem...?

Porque a culpa?
Porque dor?
Porque a guerra?
Ou o rancor?

O que é certo ou errado?
Ah...! As vezes parece tão claro...
Tão simples e tão raso:
São só certos e errados.

O que são essas vozes,
Na minha cabeça...,
São o meu mundo?

E se fosse outro mundo?
Outras vozes?
E se não houvessem vozes?

Existira a guerra, a dor, o amor?
Existiria o mundo?
Ah! Se não houvesse vozes...

As vozes do mundo fazem a mente
As vozes da mente destroem o mundo,
E o homem, e a mente.

O que é o certo? E o errado...?
São só vozes, de fato...
Mas nada disso é certo.
Muito menos errado.

Apenas use o bom senso...
E tenha cuidado,
Qualquer um pode ser apunhalado...
Enquanto existirem vozes e mundos,
E certos e errados.

(Carolina Dantas)
A Lama

Consegui me enterrar
Na mais profunda lama
Será mesmo que existe lama?

São todos porcos, que gostam
Que na lama se lambuzam
Inclusive eu...

Me enterro, rolo e espalho
No meu corpo
A minha própria excreta fétida
Me delicio
Gozo do mais profundo desgosto
Aos poucos, vou cobrindo o meu rosto

São todos porcos, inclusive eu...

São todos porcos imundos
Nojentos e podres
Que escarram em si mesmos e nos outros,
Os seus e os nossos horrores.

São todos porcos fétidos e cegos
Inclusive eu...

Só não sou totalmente cega
Pior, vejo-me debruçando
Sobre o meu próprio desgosto

Melhor seria se não o visse?

Sou uma cega com visão
Sou podre com coração
Sou suja, mas enojo
A minha própria destruição

Mas se é assim
Porque continuo na lama?
Porque continuo a me enrolar
Me lambuzar, nessa mistura estranha?

Não consigo morrer
Não consigo nada fazer
Só mais lama, lama e lama

Penso...
Cheguei ao fundo do poço?
Não...
Ainda me enterro, afundo, sedo
Deslizo sobre a lama

A lama me envolve e me convence

São todos porcos e cegos
Em seus próprios chiqueiros
Envoltos na sua própria sujeira
Ah! Quanta besteira.

São todos porcos vestidos de asco
Inclusive eu...

Não quero mais ser um porco
Quero morrer como porco
Quero que se alimentem da minha carne podre
E que fiquem ainda mais podres

Quem sabe assim vejam
Sua natureza que destroe
Quem sabe assim sintam
Toda a podridão que os corroe

Quero que continuem porcos, mas não cegos
Como eu...

Para que vejam surgir a sujeira, da sujeira, da sujeira


Tenho asco de mim
Tenho nojo
Dessa lama que vem e envolve
E esconde o meu rosto

Quero sair
Quero respirar
Quero a vida sentir
E não me afogar...

E quem sabe, nunca mais me sujar...

(Carolina Dantas)