quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Lama

Consegui me enterrar
Na mais profunda lama
Será mesmo que existe lama?

São todos porcos, que gostam
Que na lama se lambuzam
Inclusive eu...

Me enterro, rolo e espalho
No meu corpo
A minha própria excreta fétida
Me delicio
Gozo do mais profundo desgosto
Aos poucos, vou cobrindo o meu rosto

São todos porcos, inclusive eu...

São todos porcos imundos
Nojentos e podres
Que escarram em si mesmos e nos outros,
Os seus e os nossos horrores.

São todos porcos fétidos e cegos
Inclusive eu...

Só não sou totalmente cega
Pior, vejo-me debruçando
Sobre o meu próprio desgosto

Melhor seria se não o visse?

Sou uma cega com visão
Sou podre com coração
Sou suja, mas enojo
A minha própria destruição

Mas se é assim
Porque continuo na lama?
Porque continuo a me enrolar
Me lambuzar, nessa mistura estranha?

Não consigo morrer
Não consigo nada fazer
Só mais lama, lama e lama

Penso...
Cheguei ao fundo do poço?
Não...
Ainda me enterro, afundo, sedo
Deslizo sobre a lama

A lama me envolve e me convence

São todos porcos e cegos
Em seus próprios chiqueiros
Envoltos na sua própria sujeira
Ah! Quanta besteira.

São todos porcos vestidos de asco
Inclusive eu...

Não quero mais ser um porco
Quero morrer como porco
Quero que se alimentem da minha carne podre
E que fiquem ainda mais podres

Quem sabe assim vejam
Sua natureza que destroe
Quem sabe assim sintam
Toda a podridão que os corroe

Quero que continuem porcos, mas não cegos
Como eu...

Para que vejam surgir a sujeira, da sujeira, da sujeira


Tenho asco de mim
Tenho nojo
Dessa lama que vem e envolve
E esconde o meu rosto

Quero sair
Quero respirar
Quero a vida sentir
E não me afogar...

E quem sabe, nunca mais me sujar...

(Carolina Dantas)

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